Ivan Franzolim:
“É preciso
estimular a
curiosidade
intelectual
das pessoas e o
gosto pelo
estudo do
Espiritismo”
O conhecido
escritor e
divulgador do
Espiritismo
analisa o atual
momento por que
passa o
movimento
espírita em
nosso País
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Ivan Franzolim
(foto),
espírita de
berço, nasceu e
reside em São
Paulo (SP).
Formado em
Administração,
com
pós-graduação em
Comunicação
Social pela
Cásper Líbero e
em Marketing de
Serviços pela
Fundação Getúlio
Vargas, é
escritor,
articulista,
palestrante e
fundador da
ADE-SP -
Associação de
Divulgadores |
|
|
do Espiritismo
de São Paulo.
Atua no
Movimento
Espírita desde
1984 colaborando
com pesquisas e
apoio para as
áreas de
comunicação e
gestão da casa
espírita. |
|
Na presente
entrevista, o
foco central é o
atual momento
por que passa o
movimento
espírita, que
convive com
diversas
correntes de
pensamentos
divergentes e
até
conflitantes.
Como exemplos,
há forte
religiosismo por
um lado e
cientificismo
por outro. Há
kardecistas
ortodoxos e os
seguidores de
entidades
espirituais.
Aqueles que
acham que o
Espiritismo está
ultrapassado,
outros que
alardeiam a
força das
trevas. Aqueles
que trazem a
público verdades
absolutas e
nunca teses para
discussão,
outros que
querem implantar
um movimento de
humanismo.
O que tem
contribuído para
o nascimento
dessas correntes
divergentes?
Será possível
evitar ou
minimizar o
nascimento de
novas correntes
com
entendimentos
contraditórios?
Penso que a
existência de
formas
diferentes de
entender a
doutrina é
salutar e
desejável, desde
que estejam bem
fundamentadas,
abertas ao
estudo e à
investigação. A
origem parece
residir na
interpretação
muitas vezes
apressada e
formulada
conforme o gosto
e a preferência
das pessoas e
também de
Espíritos que
influenciam seus
médiuns. Isso
ajuda a aumentar
a quantidade
dessas correntes
sem embasamento
que atrapalham a
compreensão do
Espiritismo. A
solução reside
no estudo
aprofundado da
doutrina
espírita, na
formulação de
teses para
discussão
pública e em
especial na
comunicação
correta do
conhecimento
espírita por
parte de todos,
espíritas e
instituições.
Quais são as
possíveis
consequências
para o Movimento
Espírita e para
a Doutrina se
nada for feito?
Primeiro, a
descaracterização
da Doutrina
Espírita, que é,
por natureza,
crítica e
investigativa.
Toda ideia
colocada para o
público com
interpretações
diferentes
deveria ser
estudada para
apontar as
novidades com
potencial de
desenvolvimento
de outras sem
fundamentações
lógicas ou
baseadas
simplesmente em
opiniões. Isso
causa confusão
por parte dos
espíritas
iniciantes que
não possuem
conhecimento
para analisar e
concluir,
aumentando o
entendimento
equivocado do
Espiritismo.
Qual será, neste
contexto, o
papel dos
dirigentes e
comunicadores
espíritas?
Estimular a
curiosidade
intelectual das
pessoas, o gosto
pelo estudo do
Espiritismo sem
o comodismo que
logo aceita a
primeira
argumentação e
sem os excessos
dos que se
aproximam do
fanatismo.
Desenvolver nos
Centros
Espíritas cursos
da doutrina que
não sejam apenas
informativos,
mas que
estimulem os
alunos a
questionarem e
pensarem
logicamente, que
sejam bem
estruturados e
baseados no
estudo
particularizado,
pesquisas,
trabalhos em
grupo,
apresentações de
resultados e
avaliações. Incentivar
e desenvolver
críticas de
livros e teses
com o
imprescindível
respeito aos
autores. Avaliar
constantemente a
forma como estão
comunicando o
Espiritismo e
implementar as
correções
necessárias.
A produção de
livros espíritas
cresceu muito
nos últimos
anos, mas têm
surgido obras
duvidosas com
mais potencial
para desvirtuar
o correto
entendimento da
Doutrina
Espírita do que
de contribuir.
Como o Movimento
Espírita deve
lidar com isso?
Alguns falam em
proibir a
comercialização
das obras
consideradas
duvidosas nas
casas espíritas. Não
concordo. Isso
contribuiria
para um processo
de manipulação
ou alienação que
considero pior.
Temos de
considerar
também que toda
proposição
encerra uma
possibilidade de
aprendizado, ou
incorporando
coisas novas, ou
reforçando
entendimentos
anteriores. É
necessário mais
informação aos
espíritas por
parte das
instituições, de
maior estímulo
ao
desenvolvimento
da curiosidade
intelectual e ao
apreço da
integralidade da
doutrina
espírita. Deve
haver mais
análise crítica
das obras tanto
individualmente
como nos cursos
espíritas.
Cerca de 15 mil
Centros
Espíritas reúnem
diariamente
espíritas e
simpatizantes em
todo o Brasil. É
por meio deles
que as pessoas
conhecem o
Espiritismo e
formam seu
entendimento. Se
o Centro tiver
práticas e
interpretações
divergentes ou
conflitantes com
a Doutrina, eles
serão repassados
a seus
frequentadores
que por sua vez
repassarão às
pessoas dos seus
círculos de
relacionamento.
Como ajudar os
Centros
Espíritas a
entenderem
corretamente o
Espiritismo,
praticarem
atividades
coerentes e
comunicarem bem
seu
conhecimento?
Toda instituição
sofre a
influência do
modo de pensar
de seus
dirigentes, que
influenciam os
trabalhadores
que um dia
também terão
papel de
liderança e
tenderão a
manter as mesmas
ideias. Torna-se
um círculo
vicioso que é
difícil de
mudar, pois as
pessoas
envolvidas não
conseguem
enxergar e
resistem às
mudanças. Para
quebrar esse
movimento
deve-se
estimular o
diálogo aberto,
a liberdade de
pensar dentro
das
instituições, o
questionamento
das ideias e
práticas, o
estudo bem
realizado do
Espiritismo e a
renovação das
lideranças.
Aumentou muito a
participação das
pessoas na
internet e nas
redes sociais.
Todos sentem que
podem contribuir
com suas visões
de mundo e do
pensamento
espírita. Com
relação aos
Centros
Espíritas, o que
está sendo bem
feito e o que
deve ser
repensado?
A tecnologia tem
possibilitado a
manifestação
pública do
pensamento de
qualquer pessoa.
Isso é muito bom
e deve ser
canalizado para
a produção de
conteúdo bem
fundamentado e
respeitoso com
as ideias
divergentes. Por
exemplo, as
casas espíritas
deveriam
incentivar seus
participantes a
publicarem
internamente
seus artigos e
estudos que
ficariam
disponíveis não
nas tradicionais
bibliotecas, mas
em Centros de
Conhecimento.
Com relação às
iniciativas dos
espíritas, o que
se deve
incentivar ou
inibir?
Tenho visto
muitas páginas
de Centros
Espíritas
apresentando
ótimo conteúdo
informativo da
doutrina, das
suas atividades,
obras sociais e
sua história.
Incluem artigos,
histórico,
download de
livros e
apostilas.
Divulgam suas
campanhas e
indicam links de
interesse.
Outras
iniciativas
deveriam ser
evitadas ou
revistas, como:
pedidos de
oração, envio de
dados para
vibração,
atendimento
espiritual a
distância, passe
virtual.
Parece haver uma
tendência de as
casas espíritas
assumirem um
comportamento
sectário,
apartado da
sociedade,
partindo da
premissa que
todo modo de
pensar diferente
da sua
interpretação do
Espiritismo está
errado e não
deve ter
atenção.
Produzem
músicas,
teatros,
pinturas, filmes
adjetivados como
“espírita”, com
a expectativa de
serem apreciados
pelos espíritas
independentemente
de sua qualidade
e real
contribuição. Esse
tipo de
comportamento
das lideranças
influencia os
trabalhadores e
frequentadores
que, por sua
vez, irão
influenciar o
conteúdo das
comunicações
sobre o
Espiritismo, o
que não parece
salutar para o
desenvolvimento
da doutrina e
integração das
pessoas e
instituições à
sociedade. Qual
sua visão sobre
o assunto e o
que poderia ser
feito pelas
instituições e
formadores de
opinião para
minimizar essa
situação?
Esse tipo de
comportamento é
preocupante,
pois dissemina
crenças que não
estão
corretamente
fundamentadas na
doutrina. Temos
de considerar
que o
Espiritismo não
nasceu completo
e não deve
desprezar
nenhuma ciência,
filosofia ou
doutrina para se
buscar a
verdade, como,
aliás, foi dito
pelos Espíritos
a Kardec. Isso
não quer dizer
que devemos
aceitar qualquer
novidade, mas
que devemos
estudá-las.
Creio que a
maioria das
ações que
podemos pensar
passaria pelo
filtro dessas
lideranças que
também são
formadoras de
opinião e
possuem maior
influência, uma
vez que estão
mais próximas
dos
trabalhadores e
frequentadores.
A dificuldade
estaria em
atingir essas
lideranças ou de
alcançar seus
liderados por
meio de ações de
comunicação dos
comunicadores
conscientes
dessa situação,
utilizando todos
os canais
disponíveis,
como palestras,
sites, blogs,
vídeos, redes
sociais, livros,
e-mail etc. Com
relação às
expressões
artísticas
rotuladas como
“espíritas”,
deveriam receber
críticas quanto
à qualidade e à
identificação
dos nomes dos
autores
espirituais.